Brasil: Preço e custo de produção da batata são recordes em 2016
Apesar do preço recorde, produtividade e custo reduzem margem do produtor.

A safra das águas 2015/16 foi marcada pela baixa produtividade de batatas em função do excesso de chuvas em todas as regiões pesquisadas pelo Cepea.
Esse cenário, somado à menor área cultivada, limitou a oferta do produto, resultando em acentuado aumento de preços. Ainda, no período pós-colheita, um alto percentual de perdas foi observado, também causadas pelo clima chuvoso.
Por outro lado, os custos de produção da batata, que seguem em alta desde o início de 2015 devido ao aumento do dólar, do diesel e da energia elétrica, estiveram elevados.
Nesse contexto, na parcial da temporada (dezembro/15 a abril/16), o preço médio da batata, ponderado pela classificação, fechou a R$ 86,99/sc de 50 kg, valor 78,69% superior às estimativas de custos de produção do tubérculo, que ficaram em R$ 48,65/sc no mesmo período. Já a produtividade média da safra foi de 30 t/ha, 10,63% menor que na temporada anterior.
Apesar dos preços altos, alguns produtores tiveram resultados abaixo da média. No Sul de Minas, por exemplo, o valor médio da safra foi de R$ 78,25/sc de batata lavada (já ponderado pelo calendário de colheita e classificação).
O custo de produção na região, contudo, foi de R$ 99,40/sc (valor captado na safra de propriedade típica da área, publicado na edição de outubro de 2016), o que gerou margem negativa de 21,27% ao produtor. Na região de Água Doce (SC)/Guarapuava (PR), o preço médio já ponderado foi de R$ 95,16/sc, valor 98,91% acima do custo de produção (R$ R$ 47,84).
Um dos principais motivos das margens tão distintas entre as regiões foi a produtividade, que, no caso do Sul de MG, por exemplo, foi estimada em 400 sacas/ha, enquanto que em Água Doce/Guarapuava, ficou em 692 sacas/ha.
Cotações batem recorde na temporada das secas
A oferta de batata esteve limitada durante a safra das secas 2016. Problemas com o excesso de chuvas na temporada das águas 2015/16 se intensificaram nas secas, o que prejudicou a produtividade no Paraná e no Sul de Minas Gerais. Além disso, por conta do clima, houve atraso no calendário de plantio e, posteriormente, na colheita, reduzindo ainda mais a oferta entre maio e junho.
Em julho (último mês da safra das secas), quando a temporada de inverno já havia começado, a disponibilidade voltou a aumentar. A ocorrência de geadas no final de abril também afetou a produtividade das áreas colhidas entre o fim de maio e o início de junho. Com isso, a produtividade naquele período, meses de maior oferta de batata, ficou 10% menor que no mesmo período de 2015.
No Paraná, a queda de produtividade foi de 53% em relação ao ano passado, fechando com média de 14,9 t/ha. Com a pouca oferta na safra das secas, os preços atingiram patamares recordes.
A maior média mensal ocorreu em junho, de R$ 200,16/sc no atacado paulistano. Esse cenário fez com que algumas áreas de sementes fossem destinadas ao mercado. Apesar do prejuízo de alguns produtores devido à baixa produtividade, a maioria deles teve boa rentabilidade. Na média da temporada das secas (maio a julho), a batata lavada foi cotada a R$ 120,66/sc (já ponderado), valor 117,95% acima das estimativas de custos, de R$ 55,36/sc. Devido ao resultado médio positivo, a tendência é de aumento de área na próxima safra, caso o clima permita um bom desenvolvimento das sementes durante o período das águas
Safra de inverno 2016 tem preços maiores que em 2015
Pelo segundo ano consecutivo, a safra de inverno termina com boa rentabilidade. Isso porque em julho, início das atividades de colheita, os preços já estavam elevados por conta da baixa oferta da safra das águas e das secas. Além disso, Vargem Grande do Sul (SP) perdeu algumas áreas, devido a problemas com as sementes que se desenvolveram durante o período das águas, quando o clima prejudicou a produ- ção. A qualidade das sementes também interferiu na produtividade das primeiras colheitas.
Além disso, no início da safra (julho), as batatas apresentaram problemas com apodrecimento, devido ao excesso de chuvas e à ocorrência de geadas durante o desenvolvimento das plantas e formação dos tubérculos.
Desse modo, a produtividade do período ficou entre 10 e 20% abaixo da média da temporada. Ao longo da safra, porém, a produtividade e a qualidade aumentaram, em oposição aos preços, que diminuíram por conta da maior oferta. No Triângulo Mineiro, a safra de inverno foi marcada pela maior facilidade de produção em rela- ção ao ano passado. Pragas e doenças se manifestaram em menor proporção; alternária e requeima apareceram em maior intensidade, mas foram controladas.
Alguns fatores climáticos pontuais interferiram na produtividade da região mineira, como geada em julho e granizo em setembro. Além disso, sementes importadas de boa qualidade resultaram em uma produtividade 15% maior que nas lavouras semeadas com tubérculos que os produtores haviam colhido. Na média da safra do Triângulo (julho a novembro), os preços da batata lavada ficaram em R$ 65,44/sc (ponderados pelo calendário de colheita e classificação), 45% acima das estimativas de custos (R$ 40,37/sc). Devido ao resultado positivo, a expectativa do setor é de aumento de área para a próxima safra de inverno.
Oferta deve aumentar na temporada das águas 2016/17
A oferta da safra das águas 2016/17 está prevista para superar a de 2015/16. Esse aumento da disponibilidade é devido principalmente à previsão de boas condições climáticas no período – com chuvas menos volumosas –, que devem favorecer a produção. O fenômeno La Niña deve ocorrer em menor intensidade até o fim do verão. No início da safra das águas (novembro), esse cená- rio, com boa produtividade no Sul de Minas Gerais e no Paraná, já pôde ser observado.
O aumento da área plantada também deve impulsionar a oferta na temporada. Em Guarapuava (PR), a área aumentou 20% (entre a 1ª e a 2ª safra) este ano, frente a 2015. A região de Água Doce (SC) também deve ter sua área ampliada em 10%.
Apesar do bom desenvolvimento das lavouras, em setembro, produtores catarinenses relataram a necessidade de 20 dias de irrigação, prática pouco utilizada nos últimos cinco anos. Em São Mateus do Sul (PR), um aumento de cerca de 200 hectares também está previsto. No Cerrado mineiro, o aumento da área deve ser de mais de 10%, para atender à indústria, não devendo impactar na oferta para o mercado.
Indústria nacional cresce 30% em 2016
A área de batata destinada à indústria segue em expansão no Brasil, sobretudo de batata-palito. A instalação de uma nova fábrica na região do Triângulo Mineiro expandiu em 30% a área de batatas com contrato para a indústria em 2016.
Assim, da área total cultivada com batatas no Brasil, 17% já é destinada à indústria. Além dessa amplia- ção, as importações de batata pré-frita também seguem aquecidas, somando, de janeiro a novembro, 311,2 mil toneladas, de acordo com a Secretaria do Comercio Exterior (Secex), quantidade 14,6% maior que no mesmo período do ano passado. Se o total importado pelo Brasil for calculado em área equivalente, e então somado à área total cultivada no País, a área de batata industrializada representaria quase 40% do total de batatas no Brasil, enquanto que a área para consumo in natura seria de um pouco mais da metade do total.
Para a safra de inverno 2017, a área de batata industrial deve continuar crescendo em ritmo acelerado.
Autores: Guilherme Giordano Paranhos , Emanuel Pereira Lima Filho, Lenise Andresa Molena
Analistas do mercado de BATATA. hfbatata@cepea.org.br
Fuente: http://www.hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/retrospectiva-2016-perspectivas-2017.aspx